quarta-feira, 31 de agosto de 2011

"Democracia e Liberdade de Imprensa" traz Brizola Neto e Paulo Henrique Amorim para debate


Dando continuidade à programação da Assembleia Legislativa e Governo do Estado, em alusão aos 50 anos do Movimento da Legalidade, aconteceu nesta última terça-feira, 30, o debate "Democracia e Liberdade de Imprensa". Dezenas de pessoas acompanharam o encontro mediado pelo superintendente do Legislativo, Pedro Sérgio Rebes Guimarães, que trouxe o jornalista Paulo Henrique Amorim e o deputado federal Brizola Neto (PDT-RJ) ao Estado.

O foco dos pronunciamentos versou sobre a relação de Leonel Brizola com a imprensa e monopólios de comunicação na época. Amorim destacou a visão do ex-governador ao constituir, nos porões do Piratini, a cadeia composta por 104 emissoras de rádio espalhadas por todo o país, para defender a posse de João Goulart em 1961: "Brizola foi o primeiro a perceber que sem comunicação de massa, não há democracia". O jornalista fez ainda um retrospecto da relação conturbada da grande mídia com o trabalhismo e lembrou: "depois de 60 anos de vida pública não se pode acusar nem Brizola, nem João Goulart, de um só ato de improbidade".

Brizola Neto iniciou seu pronunciamento lembrando passagens importantes de 1961, e afirmou que o ato de impedir a posse de João Goulart, em 1961, foi a centelha que fez com que a população se posicionasse de forma diferente em relação à informação monopolizada. O deputado conceituou de forma moderna o sistema composto pelo avô: "Brizola montou o que hoje a gente chamaria de 'rede social'. Com o rádio, quebrando o monopólio da informação".

O posicionamento de Leonel Brizola em relação ao monopólio, segundo Bizola Neto, sempre transcendeu quaisquer problemas pessoais. "Suas idéias afrontavam o império constituido", afirmou.


Após a fala dos debatedores, foi aberto espaço ao público, que contribuiu com o debate fazendo observações sobre fatos que marcaram o Movimento da Legalidade, a vida pública de Leonel Brizola e a atuação da imprensa. Sobre o último tema, Amorim destacou que na atualidade, muitos fatos importantes que acontecem em diferentes pontos do território nacional são deixados à margem pela mídia, por falta de interesse das empresas de comunicação.

O presidente da Força Sindical-RS, Clàudio Janta, interviu lembrando a necessidade da ética na indústria da informação, que muitas vezes "cria as notícias" ao tomar posicionamentos. O sindicalista levantou a possibilidade de regulamentação para a atuação jornalística, como forma de minimizar estes eventos, fazendo apropriação adequada do poder da mídia. 


Também prestigiaram o debate, que durou cerca de duas horas, a deputada Juliana Brizola (PDT); o neto de João Goulart, Christopher Goulart; o coordenador geral do grupo de trabalho da Legalidade no Parlamento gaúcho, o jornalista Carlos Bastos, a Juventude Socialista do PDT, Coletivos Brizola Vive e Força e Fé.

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Confira entrevista com o jornalista Paulo Henrique Amorim

  • Atuação na época do Movimento da Legalidade:

"O jornal, à noite, vendeu pra burro, o que fez uma cobertura ótima da resistência do Brizola. E eu fui o, digamos, telegrafista dessa história. Então pra mim a vivência desse processo é pra mim emocionante porque é o início da minha carreira profissional. O momento mais emocionante era quando eu chegava no dia seguinte e olhava o jornal nas bancas lá do meu bairro e via lá a matéria da qual eu tinha humildemente participado. Então eu não tenho uma participação muito heróica nesse episódio, mas me orgulho muito dele".

  • Uma batalha vencida na guerra da comunicação:

"Olha, eu acho que foi uma batalha vencida por alguns membros. Assim como Vargas impediu o golpe de 54 com um tiro no peito, o Brizola em 61 impediu o golpe militar, das forças conservadoras, com a batalha da legalidade e a rede da legalidade. Isso atrasou. Vargas adiou por 10 anos, Brizola adiou por três anos, e o golpe veio em 64. Agora, nós estamos progressivamente, restabelecendo aquilo que nós tínhamos que era uma maioria trabalhista que o Brasil já tinha desde João Goulart".

  • Rede da legalidade x Monopólio da informação:

"Ele tinha rádios, espalhadas pelo Brasil, não dava para contrastar, por exemplo, enfrentar o grande poder da época, que era o poder do Chateaubriand, agora, como disse o Brizola Neto aqui nesse debate hoje, ele criou uma rede social extremamente poderosa. E ele percebeu naquele momento, e levou isso para toda a vida, que sem democratização dos meios de comunicação, não há democracia".

  • O trunfo da legalidade:

"O trunfo da legalidade é que se você olhar historicamente, aquele era um momento político que o Brasil queria dar posse ao presidente eleito constitucionalmente. Não podemos esquecer que naquela época o vice-presidente se elegia independentemente do presidente da república. O Jango se elegeu vice-presidente com mais votos que o Juscelino. O Jango teve mais votos que o Juscelino. E teve muitos votos quando o Jânio se elegeu. O Jango era muito bom de voto, ele era uma fera em matéria de voto. Ele teve uma carreira eleitoral brilhante, desde aqui do Rio Grande do Sul. Então, àquela altura, havia um sentimento nacional a favor da legalidade. Porém, esse sentimento não se teria materializado não fosse a liderança de um homem tradicional, que não tinha ainda 40 anos, que era engenheiro, Leonel de Moura Brizola. E isso se deve boa parte a uma circunstância que é singular na história. O Brizola era um homem de coragem, e esse atributo sumiu da política brasileira".

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