segunda-feira, 23 de maio de 2011

Greve dos metalúrgicos da Volkswagen, no PR, prenuncia a temporada de negociações acirradas entre patrões e empregados no país

Matéria da Revista Isto É Dinheiro aponta que aumentará disputa entre empregados e patrões
Desde o dia 5 deste mês, uma cena rara pôde ser observada na fábrica da Volkswagen, em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba, no Paraná. As linhas de montagem da multinacional alemã estão paradas, e os trabalhadores, de braços cruzados. E, a julgar pelo endurecimento do tom das discussões entre a direção da montadora e os representantes do sindicato local, a briga promete. Os 3,1 mil trabalhadores da unidade reivindicam uma Participação nos Lucros e Resultados (PLR) de R$ 12 mil por funcionário, enquanto a Volks propõe a antecipação de R$ 4,6 mil.

O impasse já custou caro para a empresa. Até a terça-feira 17, o 13º dia de greve, deixaram de ser produzidos 7,7 mil veículos, um prejuízo de R$ 307,2 milhões. Embora menos de 2% desse valor – aproximadamente R$ 4,34 milhões –, fossem suficientes para pagar a diferença reivindicada pelos metalúrgicos, a Volks preferiu bater o pé e arriscar a sorte. O conflito ganhou força no último dia 11, após o presidente da companhia no Brasil, o alemão Thomas Schmall, afirmar que prefere parar a fábrica a ter de pagar um abono nesse valor.

Os trabalhadores reagiram na sequência. “Não exigimos nada além daquilo que a empresa pode pagar”, diz Sérgio Butka, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba. Butka apresenta os números do setor para embasar o pleito. De janeiro a abril, as vendas da fabricante de automóveis foram 4,6% maiores que um ano antes.

O sindicato, na verdade, acredita que a Volkswagen venha a jogar a toalha. A aposta tem como pano de fundo o precedente de duas montadoras do Estado, que já concordaram com a participação nos lucros requerida pelos trabalhadores. A Renault pagou R$ 12 mil, o mesmo valor reivindicado pelos empregados da Volks, e a Volvo foi mais generosa, concedendo R$ 15 mil. Os trabalhadores confiam, ainda, que a montadora não vai arriscar a ficar sem estoques. A unidade paranaense monta diariamente 750 modelos Golf, Fox e CrossFox. “Sem produção, não há vendas, e sem vendas, não há receita”, diz Fábio Fonseca, especialista em negociações salariais. “Os trabalhadores estão com a faca e o queijo na mão.”

Fonseca define a percepção, não só dos metalúrgicos, mas de uma série de categorias de trabalhadores sobre o contexto em que se travarão as negociações sindicais neste ano. Desde já, é esperado um ano difícil para acordos, especialmente no segundo semestre, período de data-base das maiores categorias do Sudeste, como metalúrgicos, bancários, petroleiros e comerciários. “Não há dúvidas de que o diálogo será mais tenso neste ano”, diz o coordenador do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), José Silvestre. No comércio, por exemplo, já há sinais de ruídos.

Em São Paulo, Ricardo Patah, presidente do Sindicato dos Comerciários, que representa 500 mil trabalhadores, prepara uma nova pauta de reivindicações, considerando a expansão das vendas do comércio no início do ano. “Não há razões para dificultar um excelente acordo”, diz Patah. Seu otimismo contrasta com a posição dos empregadores. Segundo Ivo Dall’Acqua, presidente do conselho de assuntos sindicais da Fecomercio-SP, este será um ano “extremamente difícil”.

“As empresas se planejaram para conceder até 6,5% de reajuste, que é o teto da inflação”, diz Dall’Acqua. “Mas no período das negociações, poderemos estar próximos de uma inflação de 7,5%, um nó perigoso.” A batalha também deverá ser dura no setor financeiro, que tem data-base em setembro. Entre os bancários de São Paulo, que nos últimos sete anos fizeram greve para conquistar aumentos reais, a expectativa é de novos enfrentamentos.

“O lucro líquido médio dos bancos subiu 18% no ano passado”, diz Juvandia Leite, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo. “Se vierem com propostas incompatíveis com esses resultados, as paralisações serão inevitáveis.” Ao que tudo indica, o cenário de greve está pronto. O diretor de relações do trabalho da Febraban, entidade que representa os bancos, Magnus Apostólico, avalia que o simples repasse da inflação já significará aumento real. “Os salários dos bancários, saturados pelo acúmulo de fortes aumentos reais entre 2004 e 2010, já terão um grande aumento do poder de compra”, diz.

Informações: Revista Isto É Dinheiro de 23/05/2011.

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