Debates contaram com técnicos do Dieese, IBGE, consultor e representante da Força Sindical
Convidado como palestrante, o técnico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ademir Barbosa Koucher, abordou em sua apresentação a retrospectiva de dados da qualificação nos últimos 10 anos. Os dois pontos principais são a evolução da população em idade ativa ocupada e desocupada no período, por idade e anos de estudo.
Destaca-se que houve um aumento grande da população na faixa de 50 anos e aumento concentrado da população com 11 anos de estudos em Porto Alegre. "Tem um aumento maior de demanda por mão de obra no grupo etário de 50 anos", afirmou Koucher. Na taxa de desocupação na Região Metropolitana, em 2010, houve a menor taxa do Brasil, que foi de 3%, enquanto a taxa nacional é de 4,5%.
"O objetivo é mostrar como evolui a população em relação à demanda de mão de obra e em comparação à oferta. Há um aumento grande na demanda de mão de obra por pessoas com mais de 50 anos e muito mais ainda pela população com nível de instrução mais alto, principalmente quem tem nível superior ou mais de 11 anos de estudo - ensino médio", disse o técnico do IBGE.
Esses dados auxiliam a pensar na qualificação e o que o Estado precisa fazer em termos de políticas públicas para o mercado de trabalho.
"A luta da Força é o caminho certo que temos, os dados demonstram isso", complementou Tiego. O secretário da Força Jovem questiona por que há tantas dificuldades dos jovens entrarem no mercado de trabalho e lança a pergunta à plateia.
O supervisor técnico do Dieese, Ricardo Franzoi, trouxe subsídios para reflexão sobre o futuro em relação à qualificação profissional. Os dados do Dieese apontam que a maioria das pessoas nas regiões metropolitanas do Brasil não participou de nenhum curso de qualificação.
Já em Porto Alegre, a faixa entre 18 e 24 anos é a que está fazendo mais cursos de qualificação. "A juventude que vem aí é mais qualificada do que a que está no mercado de trabalho", afirmou Franzoi. Franzoi afirmou ainda a importância de pensar em qualificação, mas também propor políticas de requalificação de quem está no mercado de trabalho.
A escolaridade é um requerimento maior do que conhecimentos anteriores ou programas de qualificação no segmento dos assalariados. "Parece ser uma contradição, na medida em que se faz uma busca de empregos e a escolaridade aparece mais importante do que ter uma formação, então volta a questão do Ensino Fundamental", explicou Franzoi. O Dieese está investindo também em metodologias de prospecção a fim de evitar frustrações como a importação de mão de obra de outros países e estados. "Precisamos sim de políticas de informações, de diálogos, chamar os empresários, perguntar e explicar sobre os rumos dos empregos. O empresário é que sabe para onde está indo a economia", indicou Franzoi.
O economista e consultor em planejamento Guilherme de Oliveria abordou o tema sob o aspecto "escondido" do desenvolvimento regional e da qualificação e desenvolvimento. Segundo ele, muitas cidades onde ocorre o trabalho não ficam necessariamente com a renda do trabalhador. Além disso, regiões com baixo desenvolvimento contam com cidades polo de desenvolvimento e economia forte. Ele cita cidades como Pelotas, Rio Grande, Uruguaiana e o papel do trabalhador na capacidade de influenciar o crescimento regional.
Ele fez um resgate da economia nos 1970 para entender as pistas do desenvolvimento econômico atual, destacando que o arroz e demais culturas devem se renovar em outras culturas. "Os trabalhadores tem que ter noção das desigualdades econômicas, por que vamos continuar querendo ser o celeiro do país, que foi uma vez e não é mais?", questionou.
O diretor da Força Sindical-RS Luis Carlos Barbosa elogiou o nível técnico dos palestrantes e fechou a sessão dos expositores. Ele afirmou que o ciclo de palestras deixa mais claro os gargalos aos desenvolvimento regional no RS. "Deixamos de empregar mais de 30 mil trabalhadores no RS, porque não tínhamos mão de obra qualificada. Estamos trazendo trabalhadores de outros lugares do país, importando engenheiros. Os trabalhadores que estão empregados são qualificados, mas há mais vagas do que qualificações. Os governos não estão fazendo sua parte, não estamos vendo na realidade cursos que venham ao encontro dos interesses da sociedade e dos trabalhadores", afirmou Barbosa. [
O diretor criticou os cursos do Senac, que são destinados à classe média, o que só melhorou com a intervenção do governo federal. Conforme Barbosa, há prioridade para o ensino formal, enquanto o que falta são escolas técnicas. "Com a perda da capacidade do Estado em manter as escolas técnicas, perdemos experiências. Tivemos audiências públicas na Metade Sul e Fronteira e detectamos que essas regiões são prejudicadas pela distância e as empresas não se instalam lá", afirmou Barbosa.
Citou problemas de mão de obra da Arena do Grêmio, construção do Barra Shopping e do PAC da Copa, explicitando a dimensão do problema da falta de mão de obra qualificada, isso só em Porto Alegre. "Esse debate serve para mostrar as necessidades do setor", frisou Barbosa.
As concentrações das escolas técnicas na Fronteira Oeste também foram citadas: "Estavam priorizando uma cidade como Alegrete e não previam instalação em São Borja", lembrou, quando da polêmica sobre a Escola Técnica Farroupilha em São Borja. Também disse que não adianta instalar escola técnica agropecuária na região da Serra se essa aptidão está na Fronteira.
Barbosa falou ainda do Planseq da Celulose e destacou a necessidade de políticas públicas de estado e não de governo, preparadas conforme as características das regiões. O diretor agradeceu a todos os participantes.
Cláudio Côrrea agradeceu a presença de todos os participantes e disse que foi uma ótima manhã e tarde para expandir conhecimentos. "Através de pessoas especialistas, entendemos um momento diferente e um tema importante, o desenvolvimento regional, que é fundamental para a nossa luta não somente de salários, mas para que tenhamos um dia melhor que o outro", finalizou o diretor da Força Sindical.
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